sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Caos I

Vou gritar aqui
ADEUS!
Que se morra o inverno!
Eu não agüento mais o desespero fútil dos que não foram Ah,
meus filhos.
Ah, meus filhos, Vão-se embora para fim!
Que suas perucas largas estão afogando meu mar de sonhos
E eternamente penso: quem são os dois carinhos dois
Quem são os meus, quem é o eu e tu não sabes?
Barril de paródias soltas eu!
Despejo teu conteúdo na massa,
Na, no sufoque expectativo -
Matar o desejo da comparação:
Não - me - com - pre - en - da !
Azul.

A Musa (inalterado)

Vi uma musa.
Minha musa adentrou a Vida como nonada. Fugidia, zombou-me ao rondar desapercebida. Mas, singular, na sua pluralidade de interpretações, raptou meus olhos que fuzilavam a esmo. Sua carne dourada, seu sangue mesclava-se ao infinito... Aparição maldita! Criei-te em ti mesma, impus-te tua realidade inventada. Imagem eterna dos meus sonhos, incorporo-te de súbito, irremediável. Quero-te então sem cessar. Bacante, poderias ter-te morto com um gesto, em vez disso preferes fustigar o mundo, atiçar-lhe os astros, alçar-lhe às profundezas mais inalcançáveis do teu céu. Condenas-me escravo distante, à lembrança do lânguido desespero por ti inoculado nesta alma maculada. Tua cruzada contra minha felicidade é ligeira, esfarelas o Hábito com teu sorriso de ninfa, corrompes a Beleza num átimo. Deusa caída, crucificas-me na Indiferença, largas-me sem porvir no teu rastro de destruição. E iludes-me com a delicadeza fingida duma filosofia de amores. Enganas-te, não sou tão precavido, não desconheço as correntes que me situam no oceano do teu entorno. Pranteio a dor perpétua de saber-te aqui, entre os desprovidos de arbítrio. Se houvesse a esperança de enterrar-te, extinguir para sempre esse caos terreno que te marca alheia ao Destino, mas não! Tua Imortalidade é verdadeira no fantasma do teu regressar, sei bem que a liberdade é ilusão. Bruxa, retornarias no clímax de minha obra, para tirar-lhe o sentido e torcer meu espírito submisso. O corpo que deténs agora será livrado num segundo, se primeiro eu fingir conhecer-te os subterfúgios e interferir no teu ser intocável. E meu alívio jamais perduraria, com teu retorno póstumo no semblante mais inesperado. Sou passivo servente dos teus desígnios, anja solene dos meus pesadelos, amazona pura cativada pela ordem, ímpio não-ser das mágoas mais queridas que já obtive. Amo-te, eternamente! Aceito meu encargo acima de todo o possível, tua voz muda é a sinfonia que rege meu labor. Sorrio o sorriso dos vencidos, a amargura dos apaixonados. Agradeço-te, avatar secreto da minha miséria. Resumes minha existência no silêncio que sobrevêm à tempestade, o recordar dos teus macios pecados.
Expurga-me da razão, é tudo que peço.

Maldição

Se escrever uma memória é dar-lhe força
Vou, com este sortilégio,
Inventar meu próprio destino.
Vou torná-la meu espelho:
Quando escrever um livro me escreverei;
E vice-versa.

Página 4

Espanto-me com minha própria (?) voz, desusada desde a eternidade

O gesto de destampar a caneta envolve uma construção:
Arroubo de improviso!
Ah! As pessoas passando não sabem, não, não sabem
esse saber ingênuo, das letras aqui desenhadas.
Com certeza.
Se idolatro, se idolatrarei, se idolatrei, se ídolo crio,
Ah, homenageio-o neste atuar.
Vivo minha obra,
Tentando esmiuçá-la para fazer juz a tão infindável abismo descrito saltando.
Hoje, estou aqui marcando partituras do meu mapa,
carta cartográfica aos coloridos daquela escada.
Degrau por degrau,
subindo na horizontal,
esquivo um bocejo,
rio um devaneio.

Página 3

Encarno, incorporo ao sonho, crio e imponho, ao papel do firmamento, este cenário disfarçado, os meus mil amores, a música que toca apenas para mim.

Já conhecer os caminhos, já saber os que gosto: Aqueles também fazem sentido. ó céticos, são tão válidos quanto os belos! Mas não o são...
Beleza inenarrável, vislumbrar-te é vinho das nuvens derramado no desatento.
Futuro e passado, tempo
Planejei a ponto de confundi-los.
E se destoarem, avalio: Estão encenando o que admiro ou vão repetir o velho e desajustado ritornelo?
Que a magia do vento e a Terra me engula!

Por Heráclito, Morri (Título de um luto póstumo ao viver desenfreado de outrora)

(Senti como se tivesse chorado, chorado rios imensos, chorado corpo inteiro, chorado)

Chove
na cidade perfeita
já não se sabe mais se se está sóbrio
pois na verdade jamais o estamos
e cada frase cai como uma pincelada
Que incrível é a escrita, reduzir este universo inteiro em uma palavra
em uma baforada,
em um gesto,
correr! gritar! pular e dançar!
está tocando música meus amigos
está tocando música: é o silêncio
pare e olhe.

As lágrimas do céu estão borrando o estático
estão querendo fazê-lo retornar à vida que representa

e tudo é só: "um momento"
estou só? solipsismo, me agüente!
cavaleiro do apocalipse
vou me afundar em um mar de palavras
descrever a morte súbita do aprendiz
tenho como mestra a realidade
fechar os olhos? para quê?
quero todas as milformas do impensado
quero chorar mais o desnecessário
há tanto o que relatar. Mas sou eu o observador
Sou eu refletido no olhar alheio que sou meu palco.
Represento para mim mesmo! Amo o espelho:
é meu amigo, sou eu!

sobre esses próximos 3:

algumas anotações aqui
do meu caderninho do rembrandt
escritas num dia um tanto interessante
que, se nao me engano, foi o melhor dia
eu digo, até entao foi.

nao, nao fazem muito sentido.
nem sao bonitos.
mas foram o que saiu na hora
naquela hora interminável
feita de horas roubadas do sonho.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Desliga o Tempo

Desliga o tempo e vai dormir,
estou com saudade dos teus sonhos.
O sono quer chorar pesadelos,
rir o dia inteiro,
e esquecer, por fim, aquilo que importa.

Acordar: egoísmo da alma.

a título de explicação

nao, nao vai fazer sentido algum
mas vai ser tudo que eu escrevo
e voilà, nao poderei parar mais.