sábado, 22 de dezembro de 2007

Noite

Noite lembra aquelas distopias fantasmagóricas, de sair nas ruas sem luz e tremer no escuro, ser abordado por vários duendes de sorrisos estáticos, perigosos como estranhos, lembra aquelas mulheres em êxtase agitando os longos cabelos num frenesi sem mente, animalização humanamente exclusiva, corpo experimentando espasmos sem nexo que se combinam em danças ao redor do fogo, lembra velas acesas só para dar medo dos mais distantes, velas que acendem uma bolha de falsa segurança, frágil, tremendo ao vento que murmura, que grita, lá distante, sem saber quem, e esbarra nos ouvidos desatentos fazendo as cabeças girarem aflitas, lembra às vezes as nuvens cinzentas de chuva, ou pelo menos a cidade que desponta de um universo de tempestade, construção fria, morta, repleta de semi-conscientes perambulando, suspiros e relances de olhos, movimentos nas bordas do campo de visão, o invisível, noite fecha os olhos ferindo com garras de aço só para chorar querendo abrir, espernear na cama insone, desesperado, afogando nos lençóis de pano, querer abrir a janela e pular, virar folha seca redemoinhando sem mente, vontade de esconder atrás das roupas, dos óculos, das vozes, dos sorrisos, se esconder dos assassinos, dos vampiros, dos animais, dos estranhos, dos que são tantos, de olhos abertos, os que vêem e não se vê: porque acender uma vela não ilumina nada, é como gritar sozinho na noite, ninguém socorre, e é pior, porque aí vira vítima, vira presa, os outros que não se ouve encontram, não se está mais escondido, é estar nu de novo: à noite se sai enrolado em pano para não ser pego pela brisa fria, enrolado em pano para tapar bem os ouvidos, e sai para andar no escuro, nos becos, rodando os cabelos como moinho de folhas, espreitando,
tão chorando como os pelados,
tão sozinho como os pelados,
e que vai lá e salta num súbito,
salta das trevas, em espasmo,
rasga todas as vestes vizinhas,
grita e mata
morde e mata
gritando e sorrindo
bebendo sangue e sorrindo
fumando e sorrindo
sorrindo estático
sorrindo duende
sorrindo vampiro.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Agoralidade

Epígrafe do nosso tempo: ...e eles achavam que a vida estava morta!