terça-feira, 6 de novembro de 2007

Alegoria


Éramos todos cobertos de neve, ao rigoroso inverno
Saíamos a balançar guarda-chuvas fechados ao vento, gritávamos eco! eco! no topo das montanhas cinzas.
Pastávamos.
Eis um que mordido, se fugiu e escondeu.
Eis ovelha negra.
Saíamos a balançar guarda-chuvas fechados ao vento, subíamos à sombra mais alta,
Gritávamos para fim:
Eco...
O corvo negro, a zombar e morder,
Convidava mordendo, doendo.

Um dia desses, tomado de ânimo, tomado de flecha cravada no peito,
Dessas atiradas a cegas por ela maldita,
Ela ave - ovelha mordida;
Um dia desses saltei janela afora, jorrei sol,
Escrevi branco no céu azul.
Todos me seguiram - todos ecoando comigo;
Mas tantos abriram o guarda-chuva que levitei.
Meu algodão espalhou pelo céu e virei nuvem.

Hoje, quando abro olhos,
Fito o céu com raiva.
Tropeço-me em tantos ecos da nuvem que afoga luz,
Armo uma flecha no arco.
Que a nuvem branca virou montanha desbotada;
Que os guarda-chuvas abertos pros outros pra mim estão fechados e balançando;
Que tantos flutuantes naquele céu mais parecem escarpa dura,
Parede dura, infértil, morta.

Puxo meu arco e mordo, derrubo a nuvem, ovelha de guarda-chuva.
E que nós, aqui fugidos, escondidos,
Reneguemos as glórias pálidas de museu.
Hoje à noite comeremos a carne dos nublados,
E procriaremos aves de cor e de voz, aves da cor e da voz, corvos.

6 comentários:

  1. Também cru:
    talvez não dê pra entender nada.

    cena do guarda-chuva, ver Morte, ver contexto.

    to relendo, acho que tá incompreensível.
    foda-se.
    pra mim, tá uma viagem muito louca

    ResponderExcluir
  2. o parágrafo/estrofe da flechada, do salto janela afora,
    vou reestruturá-lo todo.

    ta contradizendo minhas ideias sobre guarda-chuva (que comentario esquisito)

    e foda-se que eu confundo lã com algodão.

    ResponderExcluir
  3. pois eu achei deveras bonito - ainda que compreendendo só parte ou parte da parte do que vc quis transmitir (digo-lhe: li "Morte" e, sim, identifiquei o episódio de amsterdam, achei perfeito).
    mesmo que seja incompreensível para tantos ou para todos, oras!, que mal há nisso? clarice lispector já dizia não querer a terrível limitação daqueles que vivem apenas do que é passível de fazer sentido.
    vc escreve muito bem, andré! continue escrevendo e confundindo lã com algodão, pois os frutos da sua confusão e da sua loucura são lindos.

    beijo!

    ps.: flávia chapot = namorada do pietro hehe!

    ResponderExcluir
  4. ahauhuahuhauha
    mas flávia, se ninguém entender nada, nunca, aí fica impossível :D
    mas contanto que tenha uma explicação escondida, um significado oculto;
    tem álibi pra ser hermético :P

    em morte eu ainda acho que devo mudar o início, a cena do guarda-chuva tá estranha ainda (guarda-chuvas são um problema).

    ResponderExcluir
  5. dois comentarios:
    - pelos corvos de odin!
    - nevermore.

    vou plagiar o pips e comecar a falar em voz em vez de alma.

    ResponderExcluir
  6. Faço minhas as palavras do Pietro e da Flávia, ou seja:

    1) "não entendi porra nenhuma, mas tá bem escrito pra caralho, deixa assim"
    2) "mesmo que seja incompreensível para tantos ou para todos, oras!, que mal há nisso?"

    Na verdade, por não entender nada me refiro a não fazer idéia do que você quis dizer com tudo isso; porém, sei o que tudo isso diz para mim. Ou seja, achei viajante, não literários são os textos em que sabemos exatamente aquilo que o autor quis dizer. Entende o que quero dizer? rs

    Parabéns pelo blog, você escreve muito bem, nas férias, quando estiver com mais tempo, vou dar uma olhada nos seus textos antigos.

    ResponderExcluir