segunda-feira, 9 de março de 2009

texto-petróleo

"... e o início e o fim procriariam mil filhos em um sexo literário ..."

"... este capítulo ecoa num silêncio vago os gritos da página debaixo desta, pois que ela fica soando monstruosamente ..." e a tal página não existe, é imaginária, mora dentro daquela espessura ridícula, é interna às letras feias se balançando em palavrões

a picareta do Tédio de baudelaire, o monge martelando o sino para acordar Deus dos seus sonhos, o fim do mundo;

texto que é uma gozada de porra grossa, porque nunca escreve até que estoura, e se torna atropelado - literalmente atropelado: são poemas bonitos que foram arrebentados contra o muro e saíram mancando aleijados; todos cheios de cicatrizes de onde era são, mas que agora fica nascendo em outras formas de literatura, outros tumores parasitas; é uma grande aberração, com os membros em constante fornicar, multiplicar; e se dilacerando, que entram a se comer e foder ininterruptamente, se arrancando desde os cabelos até os dedos e os olhos

eu quase vejo, percorrendo as idéias incômodas, um fio de estrutura: um grande rio de sangue-esperma, que fode ou morde tudo que encontra -
uma veia, uma ferida retalhada, dá até pra ver o corte torto da navalha dilacerando as imagens; corte donde escorre um esperma preto e fecundo, porque estupra todas as palavras que encontra, e gira as imagens tanto que as faz vomitar suas avessas;

a cena, a traduzir e remendar, pode ser uma simples picareta enfiada nas tripas, ou aquele pai gritando a morte com a boca vermelha maior que o mundo, ele arrebenta a relação som-imagem, de tanto que ressoam seus berros de chumbo na memória, tremendo o próprio tecido de tudo,
- e sinto tecido em tudo, tecido vivo que sangra, tenho medo de pisar no chão e desvirginizá-lo, de engravidá-lo com esse ritmo degenerado

um texto/cena que fosse um poço de lama, um poço de petróleo,
que eu enfiasse o balde e fosse sujando o mundo pútrido, com suas próprias entranhas mortas e fossilizadas há tanto, que o mundo tentava engolir e indigerir;
texto feito com o pus das inflamações, com a carne podre,
texto-câncer,
que quer mais é que tudo moribundo ande alguns passos e desmonte, caia cadáver choroso; que os cadáveres ele poderia fornicar e procriar sua monstruosidade em outros planos

Um comentário:

  1. peraí, acho q vou vomitar
    lerei esse escrito na aula de anatomia, para algum cadáver

    ResponderExcluir