segunda-feira, 9 de março de 2009

esperneio

estou tremendo, me espreguiço, mas há uma energia aqui dentro,
é um prenúncio de claustrofobia, de pânico, não sei o que fazer,
não "faria" nada, estou aqui, finjo que não está acontecendo,
penso se vou revelar a alguém meu estado,
talvez só se eu começar a tremer às suas frentes

... acho passou, ainda existe um pouco, ainda insiste,
mas não sei o que fazer com isso, é tão ruim,
só preciso de ar, falta de ar, respirar fundo

a cena do banheiro em que quase chorei,
talvez tudo tenha sido desencadedo pela lembrança de verdeacaminho, ou hoje mais cedo,
a dor da guerra e do medo de passar pelo horror dos coveiros, e enterrar a todos, e enterrá-los vivos, bando de desgraçados;
aquele horror de vampiros e picaretas,
a cena do banheiro, dos chiliques e dos espasmos,
é o que mais me é horroroso.

o escrever é um espernear, porque não consigo me libertar destes lençóis sufocantes em que me afogo à noite simplesmente com meus espasmos físicos, preciso torturar palavras e pisoteá-las agressivo, que devem ranger nos meus dentes sua dor - quero que se contorçam, escrevo para eletrocutar a tinta

quando eu me levantar desta cadeira o sonho vai sumir, vou ao banheiro, vou perder este estado absurdo. porque proust paralisava seu tropeço porque os sonhos fogem com os movimentos: são pássaros que vêm nos bicar o umbigo quando estamos dormindo; que às vezes carniceiros nos rasgam as tripas; são moscas que vêm nos transmitir doenças, vêm defecar nos nossos olhos cheios de lágrimas -
o mínimo gesto os espanta, covardes

não queria ler nada disso
acho tudo horrível
às vezes abro essas folhas e impressiono com tão estranho
nunca sei quanto aos outros
as letras gemem e estão todas tortas das torturas que lhes faço, tanto que já é difícil lê-las

sinto preso a este chão, e em breve algum mínimo estalo levará embora para nunca mais.
Isto aqui é uma carta suicida
talvez outro dia volte à vida em alguma outra dor inesperada

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